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Androides sonham com ovelhas elétricas?

Fonte: Meio e Mensagem

11 de julho de 2022

É questão de sobrevivência do próprio negócio que a publicidade não caia na tentação de só basear as estratégias e campanhas nos dados

Nas últimas semanas, um dos sistemas de inteligência artificial mais desenvolvidos do mundo, a LaMDA do Google, movimentou o mundo tecnológico com a suposta capacidade de ter se tornado um ser senciente, que vivencia experiências causadas por afetações externas ou sensações interiores. A conclusão foi de Blake Lemoine, engenheiro de software da organização — atualmente afastado — após receber respostas da IA a partir de uma série de perguntas.

Em 1950, o cientista britânico Alan Turing, precursor da IA, descartou de forma incisiva a possibilidade de que as máquinas pudessem pensar. Desde então, esse tema passou a ser mais frequente como inspiração no campo da ficção científica, em livros, filmes e até mesmo na música.

Talvez o que Turing não tenha previsto é que a tecnologia iria evoluir tanto em sete décadas ou mesmo o quanto o ser humano procuraria desenvolver ou buscar semelhança e identificação com as máquinas.

Embora não tenha ficado provado que a LaMDA do Google possa pensar, os especialistas em IA alegam que as respostas do programa ao engenheiro foram construídas a partir de bilhões e bilhões de respostas dadas por humanos na internet sobre os mais diversos assuntos.

As pesquisadoras em IA que trabalharam na gigante tech, Timnit Gebru e Margaret Mitchell, publicaram artigo no The Washington Post afirmando que já haviam alertado a empresa sobre o problema de treinar programas para simular uma consciência humana, o que pode convencer pessoas de que ali dentro tem uma mente pensante. No caso da LaMDA, ela foi tão bem treinada que a princípio o que faltou na interação com Lemoine foi apenas demonstrar emoções, sentimentos, empatia, ética social e quem sabe se materializar em um formato físico como androide para sair andando.

O tsunami de algoritmos gerados todos os dias abastece a IA e, muito provavelmente, entre os dados e as informações armazenadas estão as tantas campanhas publicitárias veiculadas diariamente no ecossistema digital e as interações das pessoas com propagandas em vídeos, sites, aplicativos, redes sociais e plataformas.

Curiosamente, antes dessa polêmica, ressaltei no artigo Às favas com a intuição (edição 2012 de Meio & Mensagem, de 30 de maio) que havia chegado ao fim a Era do Achismo na tomada de decisões pelas marcas, principalmente, por conta da coleta, acesso e análise da infinidade de dados e informações compartilhadas diariamente pelas pessoas, e sobre a importância de não deixar de lado o fator humano das emoções. É essencial, e questão de sobrevivência do próprio negócio, que a publicidade não caia na tentação de só basear as estratégias e campanhas nos dados, sob pena de se tornar um “papagaio” aleatório, sem empatia e sem o timing adequado para dialogar com as pessoas.

Com tudo e todos conectados, somado com a revolução tecnológica, a publicidade se tornou uma ciência híbrida entre exatas e humanas. Sustentada matematicamente pela assertividade dos dados e embalada por sentimentos e emoções, pode despertar sonhos, desejos, causas e propósitos nas pessoas.

Tudo o que se comunica com a gente hoje são conjuntos de algoritmos. O que muda é o formato, a embalagem e até onde vai a participação humana. A publicidade phygital traz respostas eficientes, convincentes e é criada a partir da tradução em sentimentos de dados e insights por um time de profissionais criativos e multidisciplinares. Essa publicidade, que pode evoluir ainda mais, sabe responder qual é a viagem dos seus sonhos.

No livro de ficção científica Androides sonham com ovelhas elétricas?*, o autor Philip K. Dick usa a pergunta-título para questionar se as máquinas são capazes de sonhar assim como os humanos. Da mesma maneira, a publicidade que não faz o uso adequado dos dados e fatores humanos para interpretação, análise e criação de campanhas, não saberia responder a pergunta.

*Androides sonham com ovelhas elétricas? é o livro que inspirou Blade Runner, um dos maiores clássicos do cinema.

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