Home / Que venha a diversidade das propagandas

Que venha a diversidade das propagandas

Fonte: Meio e Mensagem

17 de fevereiro de 2022

Em 2004, as grandes instituições financeiras foram desafiadas a colaborar com a realização dos Objetivos do Milênio, precursores da nova agenda de desenvolvimento sustentável da ONU, a Agenda 2030, composta pelos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

A publicação do pacto global, “Who Cares Win” deu início e nomeou, naquele mesmo ano, a agenda ESG, face a total escassez de investimentos mais responsáveis, como fatores sociais, ambientais e de governança do Mercado de Capitais, que precisava urgentemente incorporar tais itens nos seus modelos de negócio.

Este movimento ganhou maturidade e, em 2021, a grande provocação para as empresas tem sido serem lucrativas e, ao mesmo tempo, executoras dos ODS.

Hoje, a agenda ESG exige responsabilidade pela preservação do meio-ambiente, promoção das questões sociais e de governança para a atração e manutenção de investidores e investimentos – quando, até então, a preocupação principal e as metas eram quase, exclusivamente, com o lucro a todo custo.

A mudança climática globalmente percebida acelerou o pilar “E” para investimentos na neutralização da emissão de carbono (ODS 13), pesquisas e ofertas de novas fontes de energia limpa (ODS 7), incentivo à economia circular (ODS 12), entre outros relevantes objetivos. Trata-se de uma questão de sobrevivência da humanidade, de todas as pessoas! Por isso, acredito que este pilar seja o mais popular e entendido dentro da agenda de sustentabilidade global, haja vista a repercussão da COP 26.

A realização de todos os pilares ESG é extremamente valorosa, tanto para a sustentabilidade dos negócios como do planeta. Mas fico especialmente feliz ao notar, nos últimos anos, sobretudo em 2021, a diversidade como um dos principais trends nas organizações.

Afinal, o que diversidade tem a ver com a agenda ESG? Ela está presente nos pilares “S” e “G”!

Assim como o alinhamento das metas de lucratividade à preservação do planeta, no pilar social, a diversidade nos negócios alinha lucratividade e responsabilidade social. Essa combinação pode promover soluções para a erradicação da pobreza (ODS1), igualdade de gênero (ODS5), trabalho digno e crescimento econômico (ODS8) e redução das desigualdades (ODS10).

Sim, as empresas devem se preocupar em trazer soluções para as questões sociais. Isto pode ser feito com a contratação, retenção e valorização de mulheres, pessoas negras e portadoras de deficiência. A inserção de pessoas diferentes do grupo dominante atual contribui para o fim das desigualdades sociais.

No Brasil, por exemplo, país com uma das maiores desigualdades sociais do planeta, segundo o IBGE, em 2020, 1% da população brasileira com maior renda mensal ganhava, em média, 34,9 vezes mais que a metade dos brasileiros com os menores rendimentos.

Estes números me deixam em estado de choque e demonstram a necessidade urgente de investimentos também no pilar “S” para um mundo melhor para todas as pessoas, a não ser que as lideranças prefiram continuar transitando em seus carros blindados, enquanto milhões de pessoas passam fome!

Para a governança, a agenda demanda diversidade, primordialmente na estrutura do conselho e C-level. Esta diversidade traz sustentabilidade aos negócios, através da inovação e aproveitamento de todos os talentos disponíveis no mercado, que certamente trarão estratégias para solucionar as demandas de todas as populações, desde que representadas.

Recentemente, para a alegria dos acionistas, a SEC permitiu a Nasdaq adotar a matriz de diversidade para as empresas listadas. Aquelas que não cumprirem os requisitos mínimos, deverão apresentar justificativa. Como justificar o favoritismo, muitas vezes inconsciente, que privilegia o grupo dominante, de tal forma que a atribuição para membros do conselho não possa ser das mulheres e pessoas negras também?

Neste ano, a pesquisa “Mulheres na Liderança”, realizada pela WILL, indicou que apenas 14% das 138 companhias consultadas possuem mulheres em seus conselhos de administração. Ano passado, o índice foi de 10% e, em 2019, de 9%.

Quando comecei a trabalhar em 2006 com direitos humanos, particularmente, com direito das mulheres, ao levar o tema diversidade nas organizações privadas, reconhecia enormes barreiras. Em geral, muito se dizia que esta era uma questão de política pública, alheia ao setor privado. O discurso “as mulheres também têm direito…” era logo rechaçado.

A partir de 2015, o surgimento de estudos, robustamente embasados, trouxe um respiro para este assunto dentro das organizações. Ainda assim, ouvi muitas vezes de CEOs que a lucratividade de seus negócios falava por si só. Ou seja, a finalidade única destes líderes ainda era o lucro e uma mudança cultural para tornar o ambiente mais diverso e inclusivo não era necessária e demandaria muito esforço e tempo. Sim, eles têm razão nesta parte, demanda esforço e tempo, mas erraram ao decidirem que estes esforços não eram necessários. Certamente, em 2021, estão arrependidos de não terem olhado para os pilares “S” e “G”, naquela época.

O movimento pela diversidade nas organizações tem ganhado cada vez mais força, desde 2018, quando passamos da abordagem baseada em direitos e lucratividade para a abordagem baseada em sustentabilidade.

Acredito que estamos no bom caminho, em 2021, com mais líderes comprometidos e uma nova era de aliados pertencentes ao grupo dominante.

Os números e as fotos ainda comprovam a disparidade, mas certamente muitas sementes estão plantadas. Como bem dito por Marie Curie: “Uma pessoa nunca repara o que foi feito, mas sim o que ainda precisa ser feito.”

Pensando nisso, para 2022 desejo a diversidade do mundo real exatamente como temos visto nas propagandas de 2021!

Confira matéria no Meio e Mensagem

Voltar para Início

Notícias Relacionadas

Anunciantes querem consolidar contas em menos agências
Um novo estúdio feito pela MediaSense e pela Federação Mundial de Anunciantes (WFA) descobriu que as marcas estão cada vez mais dispostas em centralizar as parcerias com suas agências. Entre mais de 70 empresas que participaram da pesquisa, uma em cada quatro afirmou que planeja consolidar as agências de mídia, criatividade, dados e tecnologia nos […]
Grupo Interpublic nomeia Philippe Krakowsky como sucessor de Michael Roth (em inglês)
O Grupo Interpublic anunciou a nomeação de Philippe Krakowsky como sucessor de Michael Roth. Krakowsky assumirá o cargo de CEO em 1º de janeiro de 2021. Roth se torna executive chairman da organização.Leia Mais

Receba a newsletter no seu e-mail