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Nova crise do Facebook deve forçar mundo da tecnologia a sair das sombras

Fonte: Money Times

14 de outubro de 2021

Há algum tempo se sabe que o Facebook tem problemas. Nas últimas semanas, porém, as falhas da empresa ficaram concretas e ganharam nova dimensão: Frances Haugen, ex-funcionária da companhia, detalhou publicamente como o Facebook repetidas vezes escolheu lucrar e não proteger a segurança de seus usuários.

As regulações sobre gigantes de tecnologia, que já vinham sendo discutidas, ganharam ares de urgência.

Frances tornou públicas pesquisas internas do Facebook que mostram a negligência da empresa com a moderação de conteúdo em suas plataformas.

Ao mostrar os efeitos tóxicos de algoritmos, a denúncia põe em xeque o coração do modelo de negócios do Facebook – e, de certa forma, de toda a indústria da tecnologia do mundo atual.

“Finalmente estamos chegando a um momento histórico em que as gigantes de tecnologia estão na fronteira de serem questionadas em seus poderes econômicos. Isso demorou muito para acontecer “, afirma Paulo Rená, professor de Direito no Centro Universitário de Brasília (UniCEUB).

No caso do Facebook, a ficha caiu para muita gente na última segunda-feira, quando todos os apps da companhia, incluindo WhatsApp e Instagram, sofreram um apagão por sete horas.

Além de atrapalhar a comunicação entre usuários no mundo todo, a pane impactou empresas que dependem dos serviços para atender seus clientes – segundo o Facebook, 3,5 bilhões de pessoas usam os seus produtos.

Desgaste

A crise ainda se agrava pela quebra de confiança: a rede social manteve as pesquisas em sigilo e não tomou medidas suficientes para conter os problemas. “Iniciativas do Facebook como o Oversight Board (Comitê de Supervisão) sinalizam uma discussão, mas a empresa ainda tem feito muito pouco justamente porque é um modelo rentável”, diz Bruna Santos, integrante da coalizão Direitos na Rede.

Parece uma reprise: a falta de transparência também marcou o escândalo Cambridge Analytica, em 2018, em que foram usados indevidamente dados de 87 milhões de usuários.

Desde então, Mark Zuckerberg e sua empresa nunca conseguiram recuperar a imagem plenamente, e a nova crise deve sepultar de vez as chances disso acontecer.

O Facebook tem rebatido as acusações, argumentando que as pesquisas estão sendo mal interpretadas.

Em texto publicado na quarta-feira, Mark Zuckerberg afirmou que os documentos internos que vieram a público precisam ser visualizados “como um todo” e que foram retirados de contexto.

Partir para o ataque tem sido a nova estratégia adotada pela empresa. Recentemente, o jornal americano The New York Times revelou que Zuckerberg anunciou em agosto uma nova iniciativa chamada Project Amplify, que tinha como objetivo usar o feed de notícias do Facebook para mostrar às pessoas histórias positivas sobre a rede social.

A ideia era promover publicações pró-Facebook – algumas delas escritas pela própria companhia.

Até hoje, o Facebook não sofreu nenhum grande impacto de regulação em seus negócios. Mesmo com a sequência de crises, a empresa mantém um ciclo de alta constante de suas ações.

Seguindo essa trajetória, a companhia atingiu em junho US$ 1 trilhão em valor de mercado, tornando-se a companhia mais jovem nos Estados Unidos a chegar à marca.

Durante audiência no Senado americano, a delatora do Facebook mostrou caminhos de como regular a empresa, com questionamentos que podem ser a chave para impulsionar regras mais duras para as empresas de tecnologia.

Em vários momentos do depoimento, que durou quase quatro horas, Frances defendeu que o Facebook tem “salvação”.

Para ela, a transformação não acontecerá pela via mais discutida no último ano: o desmembramento do Facebook, que incorporou na última década o Instagram e o WhatsApp. “Os problemas envolvem desenhos de algoritmos e de inteligência artificial”, disse. Para Frances, os executivos poderiam seguir tomando decisões erradas mesmo se os apps fossem separados.

A ex-funcionária propõe que a regulação seja focada na transparência de algoritmos. As gigantes quase nunca revelam como eles funcionam: eles são hoje a “fórmula secreta” para o sucesso no mundo tecnológico.

Para especialistas, a discussão sobre algoritmos vista na audiência, com congressistas procurando entender o funcionamento da tecnologia, são de grande valor. No entanto, eles ressaltam a importância da discussão extrapolar o Facebook.

“O Facebook tem o agravante de reunir vários apps. Mas outros serviços tecnológicos também funcionam com base em algoritmos e no tempo que os usuários passam na plataforma, como Twitter, YouTube, TikTok e Amazon”, afirma Rená. “Além disso, as regulações americanas devem dialogar com interesses globais”.

O caminho para a construção dessas novas regras está na informação. “Essa crise mostra o quanto precisamos de mais informações sobre as plataformas.

Ela é um começo, e não um lugar de chegada para entendermos o que acontece em uma rede social gigante”, diz Artur Pericles Monteiro, coordenador de pesquisa de liberdade de expressão do InternetLab.

Confira a matéria no Money Times.

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Dentre suas realizações estão a cofundação do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR), do Fórum da Autorregulação do Mercado Publicitário (CENP), do Instituto Verificador de Comunicação (IVC) e do Instituto Palavra Aberta.