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Mulheres negras são 4,6% da liderança das agências de publicidade no Brasil

Fonte: Época Negócios

26 de maio de 2023

Queria começar propondo um exercício a você que está lendo, de que se lembre e me fale, considerando o contexto de Brasil, qual foi a última propaganda na televisão aberta em que tenha visto uma mulher negra dirigindo um carro de luxo? Ou na qual usava joias? E até campanhas de restaurantes também marcados por alto poder aquisitivo?

Quantas propagandas com mulheres negras você viu em campanhas e comerciais ao longo de toda a sua vida? Como eram os seus papéis? Que personagens representavam?

Você se lembra de algum comercial com várias mulheres negras representando toda a sua pluralidade, tons de pele, estética e estilos e, somente, uma única mulher branca para representar todas as mulheres brancas, ignorando o fato de haver loiras, morenas, ruivas, entre outras?

Como introdução a esses questionamentos acima, é preciso lembrar que o entendimento da discriminação racial deve considerar as ações – ou omissões – tomadas de maneira consciente – ou inconsciente – e, ainda, como tudo isso gera desigualdades de oportunidades entre as populações branca, negra e indígena. É fundamental entender a importância dos termos “omissões” e “inconscientes” para compreender como o racismo se manifesta neste país.

Pois bem, me arrisco a dizer que uma das principais e mais relevantes causas desse cenário na publicidade e propaganda brasileira, ainda que com avanços muito aquém do que deveria ser, podem estar diretamente relacionadas à ausência de mulheres negras na liderança das agências de publicidade e propaganda e, consequentemente, na tomada de decisões junto aos clientes.

Segundo dados do Estudo Publicidade Inclusiva: Censo de Diversidade das Agências Brasileiras 2023, elaborado pelo Observatório da Diversidade na Propaganda e pela Gestão Kairós, mulheres negras são somente 4,6% da liderança das agências no nível gerente e acima. E não há nenhuma mulher negra CEO na amostragem das agências que participaram do estudo. Isso comprova uma sub-representatividade inexplicável, uma vez que mulheres negras são 29% da população brasileira.

Imaginem a verdadeira revolução social e cultural que teríamos no país se tivéssemos proporcionalidade de mulheres negras na liderança das agências, elaborando, criando, liderando campanhas, peças publicitárias, eventos e afins. Aprendi, com a Dra. Fernanda Macedo, um provérbio africano que faz todo sentido nesta reflexão: “Até que os leões inventem as suas próprias histórias, os caçadores serão sempre os heróis das narrativas de caças”. Talvez eu dissesse neste mesmo campo simbólico que os caçadores não partilham espaço com os leões em igualdade, porque não querem nunca deixar de ser os heróis das narrativas. Ou que os caçadores nunca querem ver outros heróis e heroínas nas narrativas, e assim sucessivamente.

Nós somente mudamos o que conhecemos, por isso o primeiro passo foi dado pelas agências que, corajosamente, se dispuseram a compartilhar seus dados para o levantamento. Já o segundo passo foi dado no dia 27 de abril, quando todas as agências signatárias do Observatório da Diversidade na Propaganda assinaram, em um evento no Ministério Público Federal, um compromisso público e coletivo em prol do avanço para a contratação, retenção e desenvolvimento de mais profissionais com marcadores de diversidade, incluindo mulheres negras.

Agora, os demais passos são com você que lê este artigo e que pode apoiar essa transformação! Basta assumir uma postura consciente e ativa, ou seja, sempre que estiver assistindo a comerciais, campanhas e divulgações de produtos, passe a cobrar, sugerir e impulsionar a perspectiva inclusiva das empresas e marcas das quais você é consumidor ou consumidora.

E mais, na sua própria empresa há mulheres negras na liderança? Lembro, por fim, da ativista negra, símbolo dos direitos civis negros nos EUA Rosa Parks, que, em 1955, se recusou a mudar de lugar no ônibus, não cedendo espaço para que um homem branco se sentasse, como pediam as leis segregacionistas daquela época.

Precisamos hoje e, continuamente, sempre que nos depararmos com uma realidade com a qual não concordamos, nos posicionar fortemente, co-construindo a nova realidade que não somente sabemos que é possível, como também sabemos que é necessária.

Confira matéria na Época Negócios

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