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Demissões nas big techs afetam mais mulheres e pessoas negras

Fonte: Fast Company

2 de fevereiro de 2023

À medida que o setor encolhe, dados sugerem que nem todos os trabalhadores foram igualmente afetados

Nos últimos anos, as empresas de tecnologia investiram bilhões na promoção da diversidade e equidade, anunciando que estavam dispostas a enfrentar desigualdades sociais de longa data.

Mas, depois das dezenas de milhares de demissões que ocorreram nos últimos meses, as pesquisas demonstram que mulheres e pessoas negras foram os grupos mais desproporcionalmente afetados.

De acordo com o Layoffs.FYI, que acompanha os cortes de mão-de-obra na indústria de tecnologia, cerca de 45% dos que perderam seus empregos na recente onda de demissões eram mulheres.

Embora as demissões se dividam quase igualmente entre gêneros, não podemos esquecer que as mulheres representam menos de um terço dos trabalhadores da indústria de tecnologia e ocupam menos de um quarto das funções técnicas e de liderança, de acordo com um estudo de 2022 da Deloitte.

O banco de dados online catalogou mais de 150 mil demissões em 2022 nos EUA, metade delas ocorridas apenas nos últimos dois meses do ano. “O ritmo definitivamente acelerou no final do ano”, analisa o criador do Layoffs.FYI, Roger Lee, acrescentando que os números continuam subindo.

Até 23 de janeiro, o site havia rastreado mais de 56,5 mil demissões só neste ano – mais de um terço do total de demissões de todo o ano de 2022. Lee diz que usou um verificador de gênero para analisar os nomes de 1.258 trabalhadores de tecnologia demitidos recentemente. O computador categorizou 44,8% deles como “provavelmente de mulheres”.

MAIORIA EM DEPARTAMENTOS VULNERÁVEIS

Um estudo separado, conduzido pela Revelio Labs e que usou dados do Layoffs.FYI, apontou que as funcionárias representaram 47% das demissões entre setembro e dezembro de 2022. Outro estudo, conduzido pela Paychex, descobriu que quase três quartos das trabalhadoras de tecnologia temem ser alvo de demissões.

Um processo recente lançado por duas ex-funcionárias também acusa o Twitter de demitir mais mulheres, alegando que a empresa cortou 57% das mulheres em sua força de trabalho, em comparação com 47% dos homens.

Uma possível explicação para essa discrepância é que as funções de vendas, marketing e outros cargos voltados para o atendimento ao cliente respondem por cerca de 20% dos cortes. Além disso, os setores de recrutamento e RH são, de longe, os mais afetados, com muitas empresas cortando as equipes pela metade.

“As funções de RH, recrutamento e atendimento ao cliente tendem, tradicionalmente, a incluir mais mulheres do que outros departamentos, como engenharia”, diz Lee. “A área de engenharia representa uma porcentagem muito baixa dessas demissões, especialmente em relação ao seu tamanho.”

Ainda não há dados comparando como as demissões recentes estão afetando outros grupos minoritários na indústria de tecnologia, mas Lee suspeita que irá encontrar o mesmo padrão assim que os dados estiverem disponíveis.

O estudo da Revelio Labs também identificou 11,5% dos demitidos no segundo semestre do ano passado como latinos, apesar de eles representarem menos de 10% da indústria.

 SOLUÇÕES QUE PIORAM O PROBLEMA

A contradição entre a ênfase que a indústria tem dado aos discursos pró-diversidade, equidade e inclusão (DEI) e essa discrepância recente nas demissões não surpreendeu os pesquisadores. 

Em 2016, vários casos de dispensa injusta ou preconceituosa já haviam deixado os empregadores mais cautelosos na hora de demitir alguém formalmente, relembra Alexandra Kalev, que conduziu um estudo de mais de 800 empresas dos EUA em 2016.

“Com o tempo, vemos cada vez mais o uso de um ou dois critérios sobre quem demitir. Mas, ironicamente, esses critérios continuam sendo discriminatórios, porque um deles é o ‘tempo de casa’”, diz Kalev, que lidera o departamento de sociologia e antropologia na Universidade de Tel Aviv.

O princípio “tempo de casa” sugere que as contratações mais recentes são as mais vulneráveis a cortes. Um estudo recente da ZipRecruiter confirma que os funcionários mais novos correm maior risco de serem demitidos. Embora esse critério seja frequentemente utilizado em nome da transparência e da justiça, mulheres e trabalhadores negros são estatisticamente mais propensos a se enquadrar nessa categoria.

De acordo com o estudo de Kalev de 2016, o critério “tempo de casa” resulta em uma perda líquida de 19% das mulheres brancas na gestão e uma queda de 14% na parcela de homens asiáticos.

Junto com tempo de serviço, a outra métrica comumente usada para decisões de demissão é o departamento – o que é consistente com as descobertas do Layoffs.FYI sobre cargos voltados para o cliente e recursos humanos, e que também tendem a ter proporções mais altas de funcionários do sexo feminino.

MANTENDO OS ESFORÇOS DEI EM MEIO AOS CORTES

Apesar de todo o discurso sobre DEI nos últimos anos, Kalev diz que não há motivos para esperar que essa rodada de demissões será diferente daquelas que ela estudou em 2016.

“Nos últimos cinco ou seis anos, e especialmente desde o caso George Floyd, ouvimos muitos discursos sobre diversidade e inclusão, justiça racial, transparência e promessas ao público. Essas vozes estão mais silenciosas agora”, diz ela.

 Em vez de se apoiar em métricas que buscam retirar as representações sociais e raciais da equação, a pesquisa de Kalev sugere que a melhor maneira de evitar o corte desproporcional de grupos minoritários é fazer desses fatores parte do processo de tomada de decisão.

Quando os tempos são de crise, os líderes estão sob pressão para tomar decisões rápidas. Nessas condições, é mais provável que os preconceitos mostrem sua cara.

“A única maneira de não retroceder em diversidade é fazer um plano para não perdê-la. Faça com que esse seja o objetivo: reduzir ou demitir sem prejudicar a diversidade”, recomenda Alexandra Kalev.

Confira matéria na Fast Company

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