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Fonte: Meio e Mensagem

19 de setembro de 2023

Assim como Gil, nos discos conectados pelo prefixo Re, já passou da hora do produto Brasil se comunicar sob preceitos modernos sem precisar abrir mão dos ativos reconhecidos no mundo

Na metade da década de 1970, o músico Gilberto Gil iniciou as gravações e lançamentos dos discos que integram a Trilogia Re – Refazenda (1975), Refavela (1977) e Realce (1979). O artista havia retornado do exílio e tinha como proposta, por meio de uma perspectiva pós-tropicalista, provocar novas reflexões, improvisações, retomada e, porque não, recriação da sua obra. Os três discos foram sucesso de crítica e público, e muitos hits desses discos seguem populares.

Faço essa introdução para jogar luz no tema central deste artigo: um produto chamado Brasil, de como tratamos mal a comunicação deste produto e, de certa forma, fazer um chamado para a necessidade de um rebranding nacional. Assim como Gil, nos discos conectados pelo prefixo Re, buscava fazer uma relação entre a tradição popular e a aposta em um novo processo de modernização democrática, já passou da hora do produto Brasil se comunicar sob preceitos modernos, fazendo uso das ferramentas, tecnologias e recursos que dialogam com o hoje, sem precisar abrir mão dos ativos positivos pelos quais somos reconhecidos no mundo todo.

Crescemos imbuídos de que os valores e as principais características do Brasil se resumem a uma série de clichês, como futebol, samba, carnaval, praias… Ser visto por esses assuntos não é o problema essencial deste produto. O problema está em ser visto unicamente por eles e de forma descoordenada, sem uma narrativa que traga valor para o que de fato o produto Brasil é e significa atualmente.

É comum a cada quatro anos que o governo da vez apresente uma nova logomarca para representar e expressar o que é o Brasil turisticamente e comercialmente no exterior. Mas o fato é que a logomarca acaba perdendo alma, essência, valor e rumo com o passar dos anos, a partir do momento que o jogo político e o xadrez das reformas e trocas ministeriais e em secretarias entram em cena.

O Brasil está entre as dez maiores economias do mundo e somos o quinto país em extensão territorial. É um produto constituído por seis biomas de características distintas, que contêm, atualmente, mais de 214 milhões de humanos. Um produto com proporções continentais, uma grande riqueza e diversidade cultural, além de uma coleção de saberes, sejam eles científicos ou tecnológicos, de povos originários até indivíduos com origem em outros povos, incalculáveis. No entanto, não há unicidade e integração desses ativos para comunicar o produto Brasil internamente e para o mundo.

Veja só um exemplo: de 2018 a 2022, mais de 30 marcas brasileiras de chocolate conquistaram 175 prêmios internacionais. Porém, quantas pessoas souberam disso? O que esse feito representou para o todo do produto Brasil? São chocolates produzidos, manuseados e embalados aqui, a partir de cacau plantado no Brasil. É indústria, é técnica e conhecimento, é agro, é meio ambiente e sustentabilidade “made in Brazil”, isso sem falar nos outros setores, como design de embalagens, por exemplo, que podem fazer parte deste ecossistema produtivo. Todos esses prêmios conquistados teriam um significado muito maior para o Brasil a partir de uma visão, estratégia e planejamento sobre o todo.

Da mesma forma que acondicionar essas conquistas do setor de chocolates pode ser um meio para comunicar e desdobrar narrativas positivas sobre o produto Brasil, o mesmo pode ser feito com outros mercados, como moda – recentemente a trend Brazilcore, que começou no TikTok, deu origem ao projeto Je M’Apelle Brasil, do artista Samir Bertoli, que levou seis marcas de streetwear brasileira para as passarelas de Paris –, produção de conteúdo e entretenimento, indústria cosmética e perfumaria, entre tantas outras.

Em um contexto no qual a economia global tem ganhado outros desafiantes aos habituais protagonistas das últimas décadas, renovar e reimaginar o produto Brasil a partir da comunicação é um dos primeiros passos para atrair novos investidores, contar diferentes histórias de sucesso para os parceiros de sempre, fortalecer os atores dos negócios nacionais e narrar de forma mais representativa e profissional o que temos de tradicional e moderno.

O ReBrasil é uma medida que precisa transcender qualquer filiação partidária ou ideológica, e ser adotado como uma política de longo prazo para o País. Algo que seja distante de um patriotismo que possa cegar ou habilitar qualquer tipo de caminho antidemocrático, mas muito próximo do profissionalismo que o próprio mercado publicitário brasileiro é capaz de fazer todos os dias para as mais diferentes marcas que se conectam diariamente com o público.

Confira matéria no Meio e Mensagem

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